@andre__romao

André Romão

 Na obra de André Romão (n. 1984, Portugal) surgem partes de corpos que, ornamentadas e suspensas, provocam no espectador uma sensação de inquietude e surpresa. O artista desafia o nosso olhar ao dispor esculturas de cabeças humanas fundidas em bronze pelo espaço expositivo, recorrendo a modos de apresentação insólitos ou desconcertantes.

Essas cabeças aparecem enroladas em tecidos, fixadas nas paredes, onde o tom de pele azulado e alienígena destes seres não-humanos contrasta com os padrões orgânicos e naturais de tons terra. De igual modo, deitadas no chão, vislumbram-se figuras de máscaras douradas, impossíveis de identificar, cobertas por um tecido de motivos geométricos e ritmados, cuja paleta cromática viva sugere a presença de um corpo oculto sob a superfície moldada.

As obras são atravessadas por uma certa sensação de tranquilidade – não no sentido de passividade ou melancolia, mas como expressão de uma pausa existencial. Essa suspensão evoca o sono e o sonho, onde todos os rostos aparecem de olhos fechados, como se habitassem um mundo onírico. Esse ambiente transparece nas próprias esculturas, onde quase se pode ouvir o tilintar de sinos emitido pelos pequenos badalos suspensos nos dedos de uma mão flutuante.

No entanto, e não paradoxalmente, somos atormentados com a ideia de morte. Algo de mórbido paira sobre aqueles corpos: a pele dourada remete para máscaras funerárias de ouro do Antigo Egipto ou da Antiguidade Clássica. Misteriosamente, como observa José Marmeleira (2022) “(...) o espectador duvidará amiúde do que está a ver, sem perder a razão. Sabe que entrou no universo ficcional – estético, conceptual, formal, visual do artista – e, no entanto, não raras vezes, se perderá numa penumbra iluminada e habitada por criaturas."

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz