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Beatriz Teixeira

No universo visual de Beatriz Teixeira (n. 2001, Portugal), o design não é um mero veículo de comunicação – é matéria sensível, energia latente, uma superfície em combustão lenta. A identidade gráfica da Bienal de Arte Contemporânea da Maia 2025 nasce do fulgor como fenómeno afetivo e percetivo, mais do que conceito: é um brilho que não se deixa fixar, que escapa aos contornos do racional. 

Constrói-se uma atmosfera gráfica que paira entre o onírico e o sintético, entre o etéreo e o corpóreo. Formas orgânicas que dançam entre cores metálicas - rosa e azul -, como balões informes e derretidos, entre a carne e o plasma, envolvem o olhar numa vibração contínua, como se a obra respirasse. Pequenas manchas brancas delineadas a preto evocam a banda-desenhada e a pop art, sugerindo nuvens que nos transportam para o mundo onírico dos sonhos e da fantasia. Uma ondulação cromática que atravessa superfícies, queima margens e desfoca os contornos do visível.

O fulgor emerge como uma espécie de clima – não é um símbolo, mas um estado. E, nessa climatologia visual, a tipografia atua como um corpo firme e táctil, que assenta sobre a névoa luminosa como um gesto de presença, de inscrição no mundo. Há uma atenção invulgar ao equilíbrio entre densidade e leveza, entre o gesto afirmativo e a suspensão. O texto não invade, convoca. É leitura, mas também corpo; é palavra, mas também ritmo.

Beatriz Teixeira revela uma escuta profunda daquilo que o design pode ser quando liberto da função puramente utilitária: um espaço de especulação sensível, onde a linguagem visual não organiza apenas a informação, mas convoca afetos, ficções e atmosferas. O seu trabalho para esta Bienal não anuncia apenas um evento, mas antecipa uma experiência visual. Uma espécie de presságio onde o brilho não se define, mas intui-se e sente-se. E talvez seja aí que o seu trabalho se afirma com mais força: não na explicação, mas na criação de uma vibração que permanece depois do olhar.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz