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Carla Cruz

Carla Cruz (n. 1977, Portugal) e Cláudia Lopes (n. 1977, Portugal) unem escultura e natureza numa só matéria. Corpos orgânicos, que evocam criaturas marinhas, corais ou líquenes, dialogam com as pedras de onde emergem – umas mais timidamente, outras com maior ousadia.

A instalação é concebida a partir do desenho, que delineia as partes constituintes deste corpo informe, utilizando materiais cerâmicos, elementos rochosos e línguas de tela pintadas. À primeira vista, não é inteiramente percetível quais os elementos moldados pelas mãos das artistas e quais os que provêm diretamente da terra. É aí que começa a ficção: quando a perceção do espectador sobre o real se torna ambígua e se abre caminho à imaginação e ao universo das possibilidades. A relação entre o mundo natural e o mundo manufaturado é tão trabalhada que a distinção entre ambos se torna quase impossível - e, talvez, até inútil neste contexto. 

As criaturas cerâmicas alastram-se pelas pedras, vão crescendo e tomando espaço, ganhando corpo. Mas não se sobrepõem à rocha, ao chão, ao corpo que as acolhe e de onde nascem – relacionam-se com eles, coexistem harmoniosamente com esse mundo natural de onde proveem. Poderá ser este um sonho realizável, ou será mais uma utopia? Uma utopia onde a convivência entre natureza e ser humano é possível. No meio do caos resultante de um mundo rápido e maquinizado, poderá ainda haver espaço para uma vivência em comunhão com tudo o que nos rodeia?

Assim como acontece na relação de intimidade entre estes dois organismos de naturezas distintas, também a associação de Carla Cruz e Cláudia Lopes se assemelha a uma relação simbiótica, com fortes raízes em Trás-os-Montes. Criada em 2019, no Porto, a parceria resulta da partilha e experimentação de processos criativos e de investigação que ambas transportam das suas práticas individuais para o trabalho conjunto. A partir da superfície como espaço de reflexão ontológica, a sua prática mergulha numa investigação sensível onde se cruzam matéria natural e objetos encontrados. O que emerge é uma cartografia poética e crítica, que escuta o mundo como quem desenterra sentidos – entre o gesto arqueológico e a fabulação especulativa.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz