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Efrain Almeida

Lembranças do quotidiano, memórias de infância e das origens da sua terra natal: Efrain Almeida (n. 1964 - 2024, Brasil) cuida do seu passado trazendo-o para o presente. São objetos preciosos tão pequenos que cabem num bolso ou num colar junto ao peito – coisas que queremos manter por perto, como amuletos da sorte.

A “Escultura que cabe na palma da mão”, um beija-flor que desafia a sua própria natureza, apresenta-se como concretização da dicotomia fragilidade e força, delicadeza e vigor. Com cores hipnóticas, esses pequenos pássaros voam incessantemente a velocidades extraordinárias, alimentados e estimulados por um coração tão forte, que representa uma parte significativa do seu peso. Há neles uma ideia de suspensão – que também nos atravessa a nós, humanos – em que o coração se apresenta como centro vital. A vibração do corpo vivo conecta-se ao que o rodeia e, assim como nos momentos de paixão em que o tempo parece parar, também o beija-flor, minúsculo e pleno de vitalidade, parece flutuar no ar, sustentado pelo veloz bater das asas. 

A madeira, matéria primordial nobre na obra de Almeida, transforma-se na representação sólida de algo aéreo, transparente, fantasmagórico, não palpável e espiritual: a memória. Mas são memórias que têm peso, constitutiva da existência desde o seu início. É uma memória que, tal como uma tatuagem, deixa marca permanente na pele. 

A obra de Efrain Almeida funciona como um álbum, onde conta a história da sua vida, dos objetos e seres que o acompanharam, atravessando gerações e derrubando fronteiras. A representação do cão “vira-lata” é talvez o maior elogio à banalidade do mundo – onde até os seres mais pequenos, muitas vezes à margem, ganham visibilidade e importância. É trabalhado com um carinho tal, que o espectador não consegue manter-se indiferente e estabelece uma relação de proximidade com a obra. São animais rafeiros que espelham, de algum modo, a condição humana. Um universo vasto e acolhedor, onde até o “bichinho” mais profano pode ser elevado à qualidade de objeto sagrado. 

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz