@filipafroisalmeida

Filipa Frois Almeida

Através de uma proposta poética e experimental para repensar o tempo e a imagem na era da pós-fotografia, Filipa Frois Almeida (n. 1981, Alemanha) trabalha a memória e a sua reconstrução, estabelecendo relações entre o passado e o futuro. Como menciona a própria artista (2024): “É através da fotografia que registamos momentos para fixar no tempo, mas ela própria também tem o seu tempo de vida - envelhece, transforma-se".

Por meio de um processo químico de alteração da composição do papel fotossensível, o projeto Mergulho em Apneia explora as questões da degradação, tanto da memória, como da própria imagem fotográfica. O processo de decomposição da fotografia estendeu-se por dois anos, abrindo espaço ao acaso, ou melhor, à tensão entre o desejo humano de controlo e a imprevisibilidade da vida e do processo artístico.

O processo da indefinição e desvanecimento da imagem assemelha-se à experiência do sonho: quando, adormecidos num sono profundo, somos visitados por rostos que nos são familiares – sabemos quem são, mas não somos capazes de os definir por inteiro. São miragens, alusivas a pessoas que conhecemos. Porém, por falta de capacidade ou por instinto de proteção, a memória falha na reconstrução exata das suas feições, e tornam-se, assim, fantasmas.

Num primeiro relance, aquelas manchas de cor desbotadas, a tinta que escorre pelo papel e destorce as formas, não nos permitem afirmar com certeza que aquela imagem antropomórfica foi, em tempos, o retrato de alguém. É necessário tempo para observar com atenção o que o gesto insinua. Rostos deformados vão ganhando corpo e, após alguns segundos de adaptação, o olhar vai recolhendo os olhos, a boca, o nariz, reconstruindo mentalmente um rosto. 

Mergulho em Apneia propõe, justamente, uma reflexão visual sobre a impermanência da imagem na era da pós-fotografia. Através da degradação lenta da fotografia impressa, a artista convoca o mergulho e o naufrágio como metáforas de acesso ao inconsciente da memória e da representação. Como diz a própria artista, “Se, como Hans Blumenberg defende em Naufrágio com Espectador, naufragar é condição original da existência, então talvez o gesto artístico consista em aprender a estar submerso, não como quem se perde, mas como quem aprende a ver com outros olhos.”

A obra de Filipa Frois de Almeida é um elogio à desaceleração do mundo, de luto e de aceitação da transitoriedade das coisas. “A imagem, em dissolução, torna-se espaço de resgate – não do que foi, mas do que persiste.”, funcionando como ferramenta para “refletir criticamente sobre a inquietação gerada pela aceleração constante da sociedade contemporânea.”

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz