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Francisco Trêpa

Francisco Trêpa (n. 1995, Portugal) cria criaturas estranhas que habitam o espaço expositivo e nos capturam o olhar pela sua invulgaridade e carácter enigmático. Corpos informes povoam este lugar de cor e mistério, como se viessem de outro mundo. A sua proveniência é indefinida, mas transportam consigo “uma ontologia de pertença que nos intriga como uma espécie de campo magnético”, como sublinha Ana Cristina Cachola (2024).

Um mural de uma rede cerâmica negra vidrada, cujo desenho na parede faz lembrar um totem de um homem-pássaro, ou talvez, um anjo, com dimensões que replicam o corpo do artista, ergue-se como um sinal de esperança. Contudo, no chão, aquilo que se assemelha a labaredas traça um perímetro avermelhado, remetendo para o fogo do Apocalipse – símbolo de renovação e purificação. Uma atmosfera mística e enigmática envolve esta figura em chamas, sugerindo um cenário de ritual sagrado.

Uma flôr-bicho, uma planta-animal sentada em cima de uma colmeia, por sua vez pousada sobre um manto de pedras, dialoga com a zona de extração mineira na região das Beiras, entre o Fundão e a Covilhã. No alto da sala, como que de vigia, uma outra criatura vermelha e exótica, a Flôr Cadáver, instiga o espectador a olhar para cima, colocando-o numa posição de vulnerabilidade e desconforto. Esta espécie, conhecida por simular a morte através do odor de decomposição, atrai os seres de que depende para a sua sobrevivência.

Por outro lado, as peças instalativas evocam o trabalho quotidiano das abelhas e outros agentes polonizadores – labor muitas vezes invisível, estranho até, mas vital para a manutenção da vida. O esforço sistemático, o trabalho em comunidade, faz o mundo girar. Simultaneamente, trata-se de “uma alusão ao polinizador do futuro, o drone”, recordando que “a palavra ‘zangão’, em inglês, se diz justamente drone.” (Luísa Soares de Oliveira, 2024), e explorando “a complexidade da realidade e o colapso do pensamento binário, a fusão entre o orgânico e o tecnológico.” (Ana Cristina Cachola, 2024).

Com um profundo interesse pela botânica, pelo comportamento das plantas e pela sua interação com outros seres sencientes que partilham o mesmo bioma, Francisco Trêpa desenvolve uma obra que alerta e convida à reflexão sobre o estado do mundo tal como o conhecemos. Um mundo em crise que pede socorro. A sombra que paira sobre nós como uma nuvem negra, é atravessada por estas criaturas que enfrentam a escuridão com a luz.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz