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Gonçalo Mabunda

Gonçalo Mabunda (n. 1975, Moçambique) transforma as armas outrora utilizadas na guerra, em esculturas de formas antropomórficas, como máscaras ou figuras alusivas à ancestralidade de um povo. O artista integra uma geração de artistas moçambicanos nascidos entre guerras, cujo desejo é de ultrapassar a ideia distópica de uma falsa sensação de poder do ocidente sobre os povos e culturas africanas. Como tal, desenvolve uma obra que é resistência, que procura “reciclar” a imagem de um país que viveu submergido no terror e violência, projetando futuros alternativos.

Existe uma correlação com a filosofia de José P. Castiano, cujo pensamento de miscigenação e de independência da filosofia ocidental se propõe como agente conciliador para debater as questões da “imagem africana”, ou melhor, das múltiplas perspetivas desse continente tão vasto. 

Balas, restos de armas desativas - como rockets, minas terrestres, AK47s - peças mecânicas desenham máscaras que “(...) são imediatamente transponíveis no sentido de cobrir os nossos próprios rostos (...).” Estabelecem, inevitavelmente, uma relação com as máscaras tradicionais feitas em madeira, destinadas a rituais religiosos e sociais, e utilizadas por diversas etnias africanas. Dialogam com a história de Moçambique, com as máscaras Mapiko, tradicionais da cultura Maconde, feitas de madeira leve, regularmente com aplicações de cabelo humano e com a inclusão de escarificações faciais e discos labiais característicos desta cultura. Embora as máscaras de Mabunda sejam também antropormóficas, expandem-se, adquirindo identidade própria - cada uma determinada pelos seus materiais e pelas suas formas. Evocam igualmente as cicatrizes da guerra desenhadas na pele, pois conhecemos as feridas que estes materiais bélicos são capazes de provocar. 

“E é para um terreno minado que Gonçalo Mabunda nos transporta através de uma violência que sublima. Ou será, antes, uma remissão para o mundo violento em que estamos mergulhados? Embora as respostas sejam complexas, as suas esculturas são entradas claras para esta discussão contemporânea.”

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz

Cortesia: João de Almeida