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Isabel Carvalho

A reinterpretação e renascimento d’ “O Livro do Tigre”, da autoria de Isabel Meyrelles, por Isabel Carvalho (n. 1977, Portugal) é uma verdadeira experiência sensorial e sinestésica. Em formato de audiolivro, a artista declama os poemas originalmente escritos em francês por Meyrelles, em 1976. Acompanhada por Emilienne Paoli, entrelaçando as línguas francesa e portuguesa num tom suave e preciso, os versos ganham nova vida ao ritmo da melodia composta por Bug Snapper / Rui Santos.

Entre a figuração e a abstração, Carvalho propõe uma nova série de pinturas para acompanhar os poemas do Livro. Manchas vibrantes sobrepõem-se, azul ultramarino, laranja, ocre – cores que tingem o papel e seduzem o olhar, convidando o espectador à profundidade da imagem. Linhas hipnóticas dançam pela composição, sugerindo tanto motivos geométricos, quanto formas orgânicas. Os empastamentos de tinta de óleo adquirem uma transparência luminosa. As imagens brilham porque se sentem verdadeiras – não apenas por ilustrarem o que se ouve, mas por completarem os versos, ganhando vida própria.

 Ao escutarmos a voz de Isabel Carvalho, embalada pela música instrumental num género de meditação, é fácil perdermo-nos na contemplação destas imagens. É como se a obra nos penetrasse – a quem observa, ouve, lê e, sobretudo, sente. Ainda que se aproxime de uma obra de arte total, há espaço para a imaginação, pois algo, ainda assim, escapa à nossa plena compreensão ou concretização emocional. A sensualidade da imaginação, como dizia Maria Gabriela Llansol, é proporcionada pela profundidade com que alguém se entrega à leitura (ou, acrescentaríamos, à experiência artística em geral), e por ela é penetrada: “A líbido compreendida assim, é verdadeiramente um manto de luz. É uma trepidação que se transmite de nós ao outro e ao que nos rodeia. E é uma trepidação muito forte e imparável, porque é um sentimento extremamente positivo, um sentimento alumiado, digamos.”

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz

Cortesia: Isabel Carvalho e Galeria Quadrado Azul