As pinturas de Jiôn Kiim (n. 1982, Coreia do Sul) surgem como um sussurro – há nelas uma delicadeza que não é ausência de força, mas uma forma muito particular de firmeza. Os gestos da pincelada são suaves, por vezes quase ausentes, outras vezes incisivos, como quem rasga um véu para revelar outras camadas do visível. 

As suas obras não pertencem a um tempo específico, não remetem a uma paisagem concreta, mas antes a uma impressão, um resíduo atmosférico que se instala entre a memória e o pressentimento. Os planos sobrepõem-se, desfazem-se, recompõem-se. Estamos perante uma pintura que se pensa no tempo, como se a própria tela respirasse em ritmos distintos – ora devagar, ora em impulso.

A artista convoca o olhar para uma paleta cromática clara, quase translúcida, onde o branco não representa o vazio, mas a expansão. A pintura abre-se e a imagem fulgorizante confronta o espectador com a dinâmica percetiva da pintura: a simultaneidade de planos, de cor, de pontos de luz, de tudo. Os seus suportes, que variam entre o papel manchado, réguas de madeira, cadernos e a tela, expandem os contornos da pintura e devolvem-lhe o seu gesto primordial: o de uma mão que toca o mundo sem o dominar. Não existe uma intenção de guiar o olhar do espectador, muito menos de impor uma leitura objetiva e única. Pelo contrário, a pintura sugere algo, propõe-se como um murmúrio visual, como se nascesse não da vontade, mas de uma pulsão íntima e inevitável. A pintura parece acontecer por si só, como se a artista fosse apenas o canal por onde ela ganha forma.

As obras de Jiôn Kiim não acabam, prolongam-se: são como tramas infinitas, feitas de silêncio e acúmulo, de doçura e rasgo. O espectador é desafiado a uma disponibilidade rara: a ver e escutar, para se perder e deixar mergulhar na contemplação quase mística e espiritual da pintura. E talvez, nesse extravio, reencontre uma outra forma de realidade, uma realidade feita de tempo, gesto e possibilidade.