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Luís Silva Carvalho

O trabalho artístico de Luís Silva Carvalho (n. 1952, Portugal) desenvolve-se num território onde a figura e a abstração coexistem numa tensão constante e fértil. As suas pinturas são construções visuais densas, em que manchas cromáticas, formas orgânicas e fragmentos de figuras se entrelaçam para sugerir sentidos, sem nunca os fixar. 

O espectador é transportado para um território sensível, onde forma e cor não obedecem à lógica do reconhecimento imediato, mas antes se organizam como elementos de uma cartografia poética. À semelhança das constelações que povoam o céu, as suas composições pictóricas convidam o olhar a estabelecer relações, a nomear silêncios e a percorrer os espaços entre as figuras.

Vários planos de manchas cromáticas e pinceladas densas inundam o nosso campo visual. As formas – por vezes evocando árvores, em tons de verde, laranja-rosado e branco, que sugerem uma paisagem distorcida entre um inverno gélido e uma primavera florida; por outras, lembrando corpos amorfos e formas animais, vermelhas e castanhas, onde a metamorfose se revela ambígua e necessária; ou ainda, construções imagéticas arcaicas, como os hieróglifos e a "escrita sagrada” do Antigo Egipto – recusam fixar-se numa interpretação única. 

Mais do que representações, são evocações: miragens de alguma coisa, que oscilam entre o que (re)conhecemos e o mistério. Aproximam-se das estrelas, como pontos de referência para uma leitura livre e íntima. Como observadores, somos convidados a mapear relações, a traçar percursos e a descobrir constelações próprias dentro de cada pintura – não como imagens fixas, mas como campos abertos de possibilidades visuais e emocionais.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz