@mar___vitoria

Mariana Vilanova

No trabalho de Mariana Vilanova (n. 1996, Portugal), encontramos uma escuta atenta e crítica do presente, onde a memória, o território e a tecnologia se entrelaçam numa coreografia silenciosa. Através da utilização de vídeo, fotografia e instalação em ecrã, a artista constrói narrativas visuais que desestabilizam as fronteiras entre o natural e o artificial, entre o registo e a simulação. 

Uma sala imersa em penumbra, onde plantas digitais parecem crescer a partir de ecrãs verticais como se fossem organismos autónomos. Estas paisagens, embora familiares, surgem despidas de contexto, suspensas entre a presença e a ausência. A flora luminosa, desenhada por vetores digitais, convoca uma espécie de arquivo do futuro, de vestígios especulativos que evidenciam uma natureza que talvez já não exista senão como dado.

 Uma instalação em seis canais revela fragmentos de paisagem árida, onde se manifesta a tensão entre o que é orgânico e o que é digitalmente produzido ou mediatizado. A artista não se limita a representar a realidade: reconfigura-a, através de um processo que tanto convoca a ciência e a ecologia, como a arqueologia da imagem.

A sua pesquisa — iniciada com a obra e dissertação Evoking a Simulated Past — continua a questionar o modo como a tecnologia interfere nos nossos mecanismos de construção e retenção da memória. Aqui, a memória é um terreno instável, atravessado por arquivos digitais, sistemas de vigilância paisagística e formas de observação assistida por máquinas. No centro desta prática surge uma pergunta urgente: o que acontece à memória humana quando esta é mediada, arquivada ou até mesmo gerada por tecnologias que ultrapassam os limites do corpo?

Na obra de Mariana Vilanova, há uma inquietação que se traduz numa poética da simulação — não como artifício, mas como lugar de resistência e reflexão. As suas imagens não nos oferecem um espelho, mas uma superfície translúcida onde podemos vislumbrar, simultaneamente, o que fomos, o que somos e o que podemos vir a perder.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz