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Onree

A obra cerâmica de Onree (n. 1996, EUA) reflete a confluência e transformação de dois estilos artísticos tão distintos e, ainda assim, tão próximos. Evoca os vasos da Grécia Antiga, onde outrora se representavam os motivos heroicos, mitológicos ou de guerra, agora substituídos pela exploração da forma e da própria plasticidade da pasta cerâmica. Ânforas para o transporte e armazenamento de vinho e azeite, hídrias para a água, pitos de grandes dimensões para vários géneros de grãos – é sobretudo esta tipologia de vasos que nos enche de imagens a imaginação, ao olharmos para as peças de Onree.

Por outro lado, nota-se uma profunda influência da arte oriental, em particular da cerâmica japonesa – ela própria profundamente influenciada pela mestria chinesa, cuja tradição artesanal é mais antiga do que a ocidental. A cultura japonesa preza-se pela perfeição, a delicadeza e a harmonia. A cerâmica não foge a esta premissa, procurando sempre um equilíbrio entre forma e textura, cor e luz. Os motivos diferem significativamente daqueles que são primordiais da Antiguidade Clássica, privilegiando o desenho de animais, plantas e formas geométricas. 

Partindo desses formatos históricos, o artista cria peças onde explora a flexibilidade e organicidade da matéria cerâmica, procurando equilibrar “a precisão e a espontaneidade. As (...) esculturas e vasos fazem frequentemente referência a formas naturais, à memória e à transformação, resultando em obras que parecem simultaneamente antigas e contemporâneas.” Há algo nelas que remete à cultura pop, não só pelo facto de ser capaz de conectar diferentes culturas e épocas, mas pela utilização de cores vibrantes, materiais fosforescentes e pela aplicação, através da colagem, de elementos que evocam acessórios e adesivos. Estes escorrem pela superfície das peças, derretem, ou assumem formas de grande plasticidade e maleabilidade, como se fossem pastilhas elásticas capazes de se fixar no tempo.

Contudo, as peças já não servem esses propósitos comerciais, de armazenamento ou de serviço. O que transportam, então? O que escondem dentro delas? Talvez histórias de um outro período. Quem sabe, se encostarmos o ouvido às suas aberturas, não ouviremos sussurros de memórias oriundas de outro mundo. Refletem o profundo conhecimento do artista sobre as duas culturas e a sua produção artística e artesanal que as une. As suas peças são uma homenagem à memória milenar dos nossos antepassados – a metamorfose do passado e a sua reencarnação no presente.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz

Cortesia: Musubi Magazine