@ped.moreira

Pedro Moreira

Entre peças cerâmicas e entidades mascaradas, o universo alternativo de Pedro Moreira (n. 1990, Portugal) – Domain – explora e combina a teologia e a mitologia com ficção especulativa, por meio de objetos ritualísticos e mundos imaginários. As suas obras surgem como artefactos de um outro mundo, simultaneamente arcaico e futurista. Referenciam a Época Medieval pelo carácter cabalístico e enigmático da sua estética, relacionando-a à teologia e ao esoterismo, incorporando elementos de diversas religiões e fazendo, ainda, reencarnar personagens dos contos de Jorge Luís Borges. 

Máscaras de aparência híbrida e esculturas que evocam entidades pós-humanas convocam uma narrativa em que o corpo deixa de ser biológico para se tornar simbólico, ritualístico, expandido. A cerâmica, longe de ser apenas matéria, transforma-se em interface, os objetos sugerem funções – de combate ou culto mas resistem a qualquer definição unívoca.

Como sublinha David Revés (2025): “Neste universo ficcional, podemos acompanhar a existência, ao mesmo tempo utópica e distópica, de quatro tripplesapiens que habitam um mundo onde a morte é um processo de reaparecimento, mas também o resultado de um vínculo incorruptível de troca pela vida eterna. Personagens que desenvolvem entre si relações de tensão, conflito ou complementaridade, ao estarem intrinsecamente alinhades com uma cosmogonia definida pela ordem, caos, neutralidade e verdade.”

Duas figuras com armaduras reluzentes, articuladas por uma engenhosa estrutura de ferro e cerâmica, confrontam-se num jogo de tensão. Uma empunha uma espada erguida; a outra uma lâmina na horizontal. As fronteiras entre corpo e arma tornam-se indistintas – tudo se funde num equilíbrio vertiginoso entre o cenário bélico e fantasioso, e a possibilidade de beleza diante da destruição iminente. Essa suspensão do momento da ação invade o observador com uma sensação simultânea de inquietação e desejo.

O trabalho de Pedro Moreira propõe uma especulação visual e táctil: uma hipótese sobre o que poderá ser o corpo num mundo onde o orgânico e o artificial se fundem, onde mito e código se entrelaçam. A sua prática artística propõe uma nova iconografia, construída sobre ruínas, feita de armaduras e povoada de fantasmas tecnológicos, a partir da qual possamos começar a pensar e contar novas histórias.

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz