Como quem encontra abrigo num jardim resguardado do ruído do centro, a Rádio Jardim (Portugal) instala-se na Bienal de Arte Contemporânea da Maia 2025 com a leveza de quem escuta antes de falar. Esta rádio comunitária, móvel e independente, é um lugar de encontros sonoros, entre pessoas, lugares e formas de escuta.
A Rádio Jardim pergunta: o que é que esta pessoa está a ouvir? O que nos pode contar a gravação de um lugar? Existe uma cena de escuta nesta cidade? As suas transmissões mensais percorrem diferentes locais do Porto, cada uma com uma programação cuidadosamente curada, que cruza estilos, perspetivas e geografias. Ao propor uma escuta plural, a rádio celebra a diferença como valor comum – catalisador de encontros e ponte entre mundos, línguas e histórias.
A partir de uma transmissão em direto, os momentos do dia inaugural da Bienal tornam-se paisagem sonora viva, entre o interior e o exterior, entre o que se ouve e o que permanece por ouvir. Recolhem-se conversas, fragmentos de música, ruídos do quotidiano, passos, gargalhadas, silêncios.
Inspirada numa ética Epicurista – a busca de prazeres constantes e da tranquilidade partilhada – a Rádio Jardim oferece-se como refúgio. Um lugar onde se escuta em conjunto, onde se conhece quem está de passagem ou quem escolheu ficar, onde se pode estar só e, ainda assim, acompanhado. Numa cidade moldada pela diversidade dos que a habitam ou atravessam, a Rádio Jardim é uma proposta para escutar o Porto – e agora, a Bienal – com outros ouvidos e, nesse gesto, criar comunidade.
Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz