Num gesto poético e profundamente sensível, Rita Castanheira (n.1996, Portugal) convida-nos, através do seu trabalho, a reaprender a escutar o mundo – não o digital, mas o terreno, vegetal, coletivo. World Wide Wood, inspirado no capítulo homónimo do livro Ways of Being, de James Bridle, manifesta-se como uma contra narrativa visual e sensorial a uma sociedade acelerada, desconectada do corpo e da terra.
A artista documenta um jardim, lugar onde a colaboração humana deu origem a um ecossistema comum. Esse gesto fundacional, de plantar e de cuidar em conjunto, espelha a visão ética do seu trabalho: a interligação entre espécies e a urgência de imaginar formas alternativas de pertença.
Nas imagens em movimento, as formas orgânicas diluem-se, resistem à categorização e remetem a uma morfologia onde raiz e flor partilham o mesmo contorno. As vozes que atravessam o vídeo, retiradas de múltiplas fontes, são inaudíveis: murmúrios de uma consciência fragmentada, reflexos de uma humanidade que, embora hiperconectada digitalmente, permanece desancorada no real. Em grandes painéis de cores vibrantes e reluzentes, a artista desenha motivos florais, através da sobreposição de tecidos que recorta e costura, com fluidez e liberdade.
Na performance, o corpo da artista funde-se com o ecrã, sugerindo a impossibilidade de nos descolarmos das nossas extensões tecnológicas. Há aqui um duplo gesto: se por um lado o vídeo pede reconexão com a natureza, por outro, a performance evidencia a simbiose irreversível entre corpo e máquina. O seu trabalho não pretende reconciliar esses polos, mas manter-nos nesse intervalo tenso, onde talvez nasça uma nova forma de presença – mais consciente, mais atenta, mais viva. Rita Castanheira não nos oferece respostas, mas convida à contemplação, à lentidão, à escuta do erro e da imperfeição como qualidades vitais.
Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz