@thiagorochapittaa

Thiago Rocha Pitta

A obra de Thiago Rocha Pitta (n. 1980, Brasil) é um sopro de beleza e esperança. As imagens em movimento, captadas quer através do filme, quer através de aguarelas e pinturas, envolvem-nos numa sensação de deslumbramento. Paisagens infinitas, entre o magnífico e o terrível. 

Em “Herança”, um pequeno barco parece navegar à deriva no meio da imensidão oceânica. Mas não vai só – leva dentro dele duas árvores. Num jogo constante de equilíbrio e resistência, vemo-lo a afastar-se. Enquanto espectadores, acompanhamos o seu movimento, oscilando igualmente no meio do mar tempestuoso e ouvindo, aquilo que parece ser, a madeira do barco ranger. 

As ondas, escondem e revelam, alternadamente, aquilo que poderá ser uma miragem, uma ilusão. Será este um último resquício de um mundo que se desvanece? Para onde navega? Por não nos ser possível avançar e ir ao seu encontro, deixamo-nos estar, num pânico silencioso. Desequilibradamente decidido, o barco desaparece no horizonte, sem se deixar engolir pela tormenta, nem sucumbindo ao destino traçado por uma Deusa-Mãe, bondosa e cruel, que tanto dá como tira.

“Suas obras têm no cerne a ideia de entropia e sugerem uma temporalidade dilatada, como aquela própria das transformações da natureza, constituindo, assim, situações silenciosas e, por vezes, surreais.” Esta obra videográfica lembra uma outra do artista, “Homenagem a JMW Turner”, com a qual estabelece uma forte relação, evidenciando a efemeridade da vida e a transitoriedade das coisas. As plantas, enquanto seres breves e voláteis – tal como nós seres humanos – recordam-nos que “tudo passa, tudo se transforma. Nós somos feitos de poeira de estrelas que já não brilham… até o sol um dia há de morrer. Portanto tudo é breve e, sobretudo, nossa vida é tão breve que mal percebemos a brevidade das coisas que duram mais que nós mesmos.” (Thiago Rocha Pitta, 2024)

Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz