A série de cartazes de Tiago Madaleno (n. 1992, Portugal) remete para uma linguagem cinematográfica, em especial para a narrativa do road film. A história inicia-se, geralmente, com uma viagem de carro que percorre caminhos incertos rumo a um futuro imprevisível. Trata-se de uma fuga ao quotidiano, onde o cenário assume um papel central na estética deste género cinematográfico.
O artista transfere essa ideia de imagem em movimento para a estética do cartaz, conduzindo o espectador pela linha narrativa do filme representado. Utiliza tinta magnética, que permite o decalque da imagem em superfícies como vidro e espelho, evocando a materialidade da película cinematográfica e expandindo a obra para esses "espaços entre-dois", num jogo com o suporte, como explica Susana Ventura (2025).
Mãos desenhadas de forma esquemática replicam o gesto ondulante de quem, à janela do carro, acompanha os movimentos do vento com a mão, como um pássaro levado pela brisa. Conversas entre viajantes representadas pelos balões de fala, alusivos ao cartoon e à banda desenhada, são acompanhadas pela silhueta de uma cadeira – símbolo da troca de ideias e de longas tertúlias pela noite dentro. Onomatopeias e paisagens repetidas de pinheiros enriquecem a experiência sensorial e convidam o espectador a integrar-se na viagem.
A obra de Madaleno evoca a filosofia de Achille Mbembe, que observa: “A condição terrena nunca foi qualidade exclusiva dos seres humanos. Amanhã, será muito menos ainda do que ontem.” Num mundo globalizado e acelerado, onde “nada é inviolável, nada é inalienável e nada é imprescritível”, talvez a verdadeira origem de cada indivíduo resida menos na nacionalidade e mais na condição de "passante" – aquele que está de passagem, vindo de outro lugar, a caminho de outros destinos. Essa figura convida-nos à hospitalidade, mesmo que temporária.
Investigação e criação de textos de apoio à curadoria: Leonor Guerreiro Queiroz