O "fulgor" do poder transformador da Arte

Aí está a Bienal de Arte Contemporânea da Maia 2025 _ Fulgor.

A Maia vive, entre 3 de julho e 14 de setembro, mais um certame Bienal de Arte Contemporânea, que apresenta uma programação abrangente e multidisciplinar, com entrada livre.

Enquanto espaço de reflexão crítica, imaginação e participação ativa na construção de um futuro comum, a Arte, entre outras coisas, possui, a meu ver, um intrínseco poder transformador que impacta, necessariamente, o desenvolvimento e a evolução das sociedades. E, para além da expetável fruição que a visita à Bienal de Arte Contemporânea da Maia (BACM), por certo, pode proporcionar, valorizo igualmente esse potencial de transformação social que o evento aporta à nossa comunidade.

Saúdo a curadoria da edição deste biénio, principalmente pela ousadia de afrontar o medo — ousadia que se afirma na seguinte expressão: “um futuro liberto do medo que permeia determinados discursos e narrativas, mais plural, inclusivo, desafiante e, simultaneamente, inventivo”.

É com “fulgor” que endereço, na pessoa do Vereador da Cultura, Mário Nuno Neves, uma palavra de reconhecimento e gratidão a todos quantos tornaram possível a edição de 2025 da BACM, particularmente à curadoria, aos artistas e à equipa municipal que, denodadamente, se empenhou nos trabalhos de montagem.Estou certo de que, enquanto a BACM 2025 estiver patente ao público, a Maia estará no radar de quem aprecia a Arte Contemporânea — não apenas na região metropolitana a que orgulhosamente pertencemos, mas em todo o país.
Presidente da CM Maia
António Silva Tiago

Fulgor

Fulgor (do latim “fulgur” e que significava um brilho intenso, instantâneo) é o conceito-chave que alicerça esta edição da Bienal da Maia de 2025, inspirado numa pergunta-inquietação de Maria Gabriela Llansol: “para onde o fulgor se foi?”

Na verdade, o negrume que assola a Humanidade nestes tempos dá inteiro cabimento à pergunta de Llansol.

Um negrume que é um desafio permanente à criação artística e aos artistas, obrigados a serem novos Prometeus que, com as suas obras “surripiam” aos Deuses o fogo - que é claridade -, fazendo de cada uma um novo fiat lux.

A luz, venha ela do pequeno candeeiro que afasta os fantasmas do quarto do bebé, do conhecimento que aporta ética e sentido crítico, ou da arte que consagra a esperança é hoje, como foi desde a alegoria platónica, a única ponte entre a destruição e a renovação.Uma renovação que todos os participantes desta Bienal ensaiam e propõem.
Vereador do Pelouro da Cultura da CM Maia
Mário Nuno Neves

A Bienal e o Fulgor

A edição de 2025 da Bienal de Arte Contemporânea da Maia (BACM) assinalou o culminar de um ciclo iniciado em 2021, atravessado por inquietações políticas, desejos utópicos e um contínuo questionamento do presente. Não se tratou de um encerramento, mas de uma soma de interrogações que mantiveram vivo um fluxo de pensamento. Após ter explorado a cultura como uma prática intrinsecamente política, indissociável do nosso lugar e intervenção na sociedade na edição de 2021, e mais recentemente como um bem que permitiu refletir sobre o presente e os desafios da existência no futuro próximo na edição de 2023, a BACM 2025 propôs-se, por isso, abrir um novo horizonte: um futuro liberto do medo que permeou determinados discursos e narrativas, mais plural, inclusivo, desafiante e, simultaneamente, inventivo.

“Como continuar o humano?”, perguntou Maria Gabriela Llansol, cuja presença foi farol para estas edições. A BACM25 regressou a essa pergunta com um programa transdisciplinar e disseminado pelo território, ancorado no poder transformador da arte contemporânea como gesto vivo e corpo de afetos. Foi nesse gesto que se revelou o fulgor – não apenas como tema-conceito, mas como condição necessária ao nosso presente. Entre 3 de julho e 14 de setembro, artistas de diferentes gerações e geografias propuseram obras que não descreveram o mundo, mas que o reinventaram. Apresentaram-se, assim, obras que exigiram do público não uma leitura linear, mas uma disponibilidade sensorial, poética, crítica.“Como continuar o humano?”, perguntou Maria Gabriela Llansol, cuja presença foi farol para estas edições. A BACM25 regressou a essa pergunta com um programa transdisciplinar e disseminado pelo território, ancorado no poder transformador da arte contemporânea como gesto vivo e corpo de afetos. Foi nesse gesto que se revelou o fulgor – não apenas como tema-conceito, mas como condição necessária ao nosso presente. Entre 3 de julho e 14 de setembro, artistas de diferentes gerações e geografias propuseram obras que não descreveram o mundo, mas que o reinventaram. Apresentaram-se, assim, obras que exigiram do público não uma leitura linear, mas uma disponibilidade sensorial, poética, crítica.

Porque a arte, ao contrário de um espelho, não refletiu apenas o mundo – ela criou fissuras, possibilidades, outros modos de ver e de estar. Houve, nesta edição, uma recusa deliberada do já visto, do já revisto. As obras reunidas convocaram o tempo em espiral, onde o passado se reconfigurou à luz do presente e do futuro, como nas palavras de Llansol: “só mais tarde nos apercebemos de que tudo já tinha acontecido no futuro.” Foi esse tempo vibrátil que atravessou os trabalhos de artistas plásticos, mas também de poetas, músicos e performers, cujas práticas atravessaram pintura, performance, escrita, música, instalação, escultura, vídeo, gastronomia ou paisagem sonora – sem se restringirem a um único meio ou linguagem.

Nesta conjuntura, um importante destaque desta edição foi a presença significativa de um conjunto de obras de Eduardo Batarda. A seu modo, este núcleo funcionou como um eixo de fulgor e revisitação crítica. Para mim, enquanto curador, tratou-se de um dos corpos de trabalho mais intensos e fulgurantes da arte portuguesa – não apenas no contexto da arte contemporânea, mas em diálogo com os nomes maiores da nossa história artística. A obra de Batarda, notável e profundamente singular, mereceu ser continuamente revisitada. Foi um poema ao qual regressámos de ânimo renovado, com a certeza de que ali se jogou, ainda e sempre, uma possibilidade de futuro – na qual esta bienal se reconheceu amplamente.

A BACM foi, desde a sua génese, um lugar de encontro e experimentação. De um passado centrado na arte jovem, evoluiu para um espaço onde se reconheceu o fulgor do novo, independentemente da idade. Este ano, a Bienal pensou-se também para além da exposição central, realizou-se no Fórum da Maia, e alargou-se ao território, com residências artísticas em Arraiolos, São Miguel d’Acha, Porto, Maia e Castelo Branco. Este movimento descentralizador reforçou o papel da Maia como cidade culturalmente ativa, ousada e profundamente comprometida com o seu tempo.

De igual modo, a transdisciplinaridade foi não apenas uma metodologia, mas uma posição política. A arte contemporânea obrigou-nos a escutar novas linguagens, cruzar saberes e a abandonar categorias rígidas. Neste gesto, a Bienal aproximou-se daquilo que foi o “vivo no meio do vivo”, como diria Llansol. Porque não bastou fundar a liberdade: foi necessário ampliá-la.

A BACM25 apresentou performances que reinterpretaram a tradição popular, como a ação de Madalena Folgado e das adufeiras a partir de Giacometti e Lopes-Graça; instalações que dialogaram com poetas esquecidos; obras que se prolongaram em múltiplos sons e imagens. Momentos de encontro, de desvio, de transformação, onde a poesia atravessou tudo, não somente como género literário, mas como gesto sensível.

Neste tempo inquieto e plural, a Bienal afirmou-se como lugar de fulgor: um acesso possível ao novo, ao vivo, àquilo que ainda arde. Um lugar onde a arte foi processo, risco e presença, permitindo um olhar que se abriu a novas possibilidades. Não tendo sido nunca um ponto de chegada, foi mais um passo no compromisso com a imaginação.

Manuel Santos Maia
Curador da Bienal de Arte Contemporanea da Maia 2025

publicações & divulgação

Horário & Morada

Fórum da Maia,
R. Eng. Duarte Pacheco,
4470-174 Maia


Terça a Domingo:
das 10H00 às 22H00

Contactos

Câmara Municipal da Maia
Fórum da Maia
Chefe de Divisão da Cultura
Tel.: 229 408 643
e-mail: infocultura@cm-maia.pt
Bienal de Arte Contemporânea da Maia 2025
bienaldamaia@gmail.com
bienaldamaia.press@gmail.com
Para receber a newsletter da Bienal, envie e-mail para
bienaldamaia.press@gmail.com

Equipa

Curador
Manuel Santos Maia
Produção
Felícia Teixeira
João Brojo
Designer
Beatriz Teixeira
Webdesigner
Carolina Magalhães
Assistente de Curadoria
Filipa Valente
Registo e documentação
João Brojo, Hugo Adelino e Mariana Bártolo
Assessoria de Imprensa / Coordenação editorial
Ricardo Ramos Gonçalves
Investigação e criação de textos de apoio à curadoria
Leonor Guerreiro Queiroz
Arte Educação
Oficina Sibila — Joana Mendonça e Filipa Valente
Equipa de montagem
Diogo Machado, Miguel Ângelo Marques, Rafaela Lima
Promotor
Câmara Municipal da Maia, Pelouro da Cultura
Vereador do Pelouro da Cultura
Mário Nuno Neves
Chefe da Divisão da Cultura
Sofia Barreiros
Apoio à produção
Divisão da Cultura
Serviço Educativo
Fórum da Maia

AGRADECIMENTOS

O curador e a equipa de produção da Bienal de Arte Contemporânea da Maia 2025 expressam o seu profundo agradecimento ao Pelouro da Cultura e aos diversos serviços da Câmara Municipal da Maia, pelo apoio incansável e contributo essencial para a concretização desta Bienal.
Colecionadores
● Albuquerque Mendes ● António Maia ● João de Almeida ● Manuela Matos Monteiro e João La Fuente ● Paulo Amaro ●
Parceiros
Fortes D'Aloia & Gabriel e Thamily Andrade, Galeria Graça Brandão ● José Mário Brandão, Galeria Mais Silva ● Mário Ferreira da Silva, Câmara Municipal do Porto / Coleção Municipal de Arte, em depósito na Galeria Municipal do Porto, Galeria Papoila ● Marisa Pedrosa e Ruben Zacarias, Galeria Pedro Oliveira ● Pedro Oliveira e Nuno Lapa, Galeria Presença ● Rita Sá Alves, Galeria Quadrado Azul ● Manuel Ulisses
Parceiros de Criação
● Associação de Artes Criativas da Maia – Florinda Neves, Laura Magalhães, Ilda Martins, Marina Vieira, Esperança Silva, Isabel Magalhães, Ana Pereira ● CEENTAA – Miguel Mesquita, Jérémy Pajeanc, Graça Passos ● Coletivo Mulheres em Cena ● Cortéx Frontal – Mercedes Vidal-Abarca e Nuno Félix da Costa ● Escola da Macieira – Rita Castro Neves e Daniel Moreira ● Oficina Mescla – Alexandra Rafael e Tomás Dias
Créditos Fotográficos
● Arquivo Espaço MIRA ● João Pádua ● Mariana Castro ● Bruno Lopes ● Dinis Santos ● Alexander Bogorodskiy ● Susana Magalhães ● José Piu ●
Os artistas agradecem a
● António Alves ● A Causa da Criança – Vila Nova da Telha ● Maia ● Celeste Magro ● Diogo Gomes ● Inforcorte ● João Mendonça ● Marta Rosmaninho● Vasco Cabral ●
Madalena Folgado agradece a
● Presidente da Junta de Freguesia de São Miguel D’Acha, Dra. Cristina Geraldes ● Presidente da ADEPAC, Sofia Gonçalves ● Alojamento São Miguel D’Acha, representado por Sofia Gonçalves e Alberto Gonçalves ● Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Eng. Armindo Jacinto ● Adufeiras do grupo de cantares tradicionais de São Miguel D’Acha – Amélia Anselmo, Maria de Fátima Torrado, Piedade Jóia e Maria da Conceição Coelho ●